PRIMEIRO DIA EM CUZCO
A cidade é bem bonita. Flores e plantas dão um charme especial |
A viagem ao Peru, sem
dúvida, foi marcada pelo frio excessivo. Algo que nunca havia experimentado na
vida. Não era uma simples friagem como estava acostumado no Acre. Era frio
mesmo daqueles de doer no couro, daquele que castiga e força seus dentes
baterem um no outro sem controle. Depois de provar do Chá de Coca na cozinha,
pedi para a dona do Hotel me levar ao quarto, pois além de cansado eu só queria
tomar um banho e cair na cama e acordar no outro dia, outro ano, outra vida.
O quarto era pequeno,
aconchegante com duas camas gigantescas e um banheiro com aquecedor. A hora de
ir ao banheiro era sofrida, tendo em vista que tudo era muito gelado. Até
sentar na privada era algo que precisava de muita coragem. Ligar o chuveiro
então era atitude de super-heróis, afinal, se você ligasse na torneira gelada
sairia um picolé, ou se ligasse na quente sairia escaldado.
Corredor do Hotel |
Ao fundo uma das igrejas de Cuzco erguida pelos Europeus. |
Essa indecisão – água quente/fria
- me custou várias queimaduras nas costas e nos braços. Uma vez, ao tomar
banho, a água gelada havia acabado e de repente recebi de uma vez um jato de
água quente, quase fervendo. Aquilo foi desesperador. Mais consegui sair dessa
pulando fora da banheira.
Depois do banho,
troquei de roupa e cai na cama. Minha cabeça estava rodando, meus passos eram
pesados e tudo era muito estranho. Tomei o remédio da altitude e fui dormir.
Enquanto isso, o Emerson bebia todas as garrafas de chá de coca do mundo e fazia
novos amigos num frio de 8°C.
Por falar em novos
amigos, talvez você esteja se perguntando o que aconteceu com o paulista,
Gregory, que havíamos conhecido na Rodoviária de Rio Branco. Nosso último
contato foi na Rodoviária, mas, ele deixou seu e-mail e marcamos de nos
encontrar de noite na praça. Ele já tinha reserva em um hotel e não queria nos
acompanhar.
HORA
DE ACORDAR
Lá pelas tantas da
tarde acordei. Olhei para o lado e o Barbosa também não tinha aguentado e havia
adormecido. Acordei varado de fome, porém, estava mais habituado com o clima e
aquela sensação ruim tinha passado. Daí, quando alguém me pergunta sobre o que
fazer quando chegar a Cuzco, respondo que é preciso dormir, dormir e dormir.
Prato: Frango, arroz, batata e salada com abacate |
Não demorou muito e ele
também acordou. Tomou banho e fomos nos arrumar pra passear pela cidade dos
Incas. Pra nossa sorte o hotel que nos hospedamos ficava muito próximo da Praça
Principal um dos pontos turísticos de lá. Fomos andando e no trajeto,
encontramos gente de todo o mundo; da Ásia, Europa, África, America, e até de
marte.
Além da diversidade de
pessoas, encontramos diversidades de restaurantes, hotéis, lojas comerciais e
as igrejas. Fiquei impressionado foi com o trânsito. As ruas são muito, muito
estreitas e feitas de pedras. Logo me veio à mente as cenas da novela “Xica da
Silva”. A civilização espanhola havia passado por lá e deixou sua marca. As
sacadas das casas e prédios muito bem desenhadas e modelas.
Meu primeiro contato,
de fato, com a culinária peruana foi num restaurante aconchegante que nos
indicaram quando caminhávamos pelas ruas. Não recordo o nome, mas, lembro que a
comida era muito barata e deliciosa. Barbosa e eu não perdemos tempo e pedimos
a cerveja Cusqueña.
Logo após o
almoço/lanche resolvemos entrar numa casa de café. Pedimos capuccino para espantar
um pouco o frio. Cada coisa gostosa; Bolos, tortas, pães e chás. Sentimos-nos fim
de tarde da Europa! Batemos um papo e fomos em direção à praça.
COM
OS MEUS “BOTÕES”
O a cidade lembra um "umbigo" |
Enquanto andávamos pelas
ruas estreitas, fica refletindo o porquê os índios apelidaram a cidade de “umbigo”.
Com o passar do tempo tirei duas conclusão. Talvez seja o formato geográfico da
cidade que parecia um buraco ou cova daquelas que as cozinheiras criam com
ingredientes na hora de fazer o bolo. Ou ainda, pela variedade de raças que
desfilam pela cidade.
As ruas de Cuzco são estreitas e movimentadas |
A Praça é linda. Tem
Chafariz. Tem artistas vendendo seus quadros. Tem crianças correndo dos pombos.
Tem casal de namorados. Tem declaração de amor com direito a flores e até documentário
de rede de tevê. Enquanto registrávamos algumas cenas e tentávamos nos
acostumar com o frio, um guia turístico nos disse que do outro lado da praça é
ponto de encontro dos turistas e que lá poderíamos dançar, beber e jantar.
Não ficamos muito tempo
na praça. Resolvemos ir para o hotel descansar um pouco e nos arrumar para sair
mais tarde...
FIESTA,
FIESTA, FIESTA
Vivenciar as noites de
Cuzco era algo que mais almejava. De todos os comentários que lia na internet
sobre a cidade, se falava muito bem das festas que aconteciam especialmente para
turistas. Todo mundo sabe que sou muito festeiro e que os ritmos latinos são os
meus prediletos na hora de balançar o esqueleto.
Na Praça das Armas ou Central de Cuzco -Peru |
Seguindo a orientação
do guia, fomos pros bares/boates que ficavam do outro lado da praça. O mais
legal é que não se paga para entrar nesses ambientes. Na entrada, você recebe
um regalo (presente) dando direito a drinques e bebidas. Pelo que entendi, os
bares ficam duelando para quem atraem mais clientes. Nós, que não somos bobos, fomos
a todos! Bebi todas as cervejas, copos de cuba livre e margaritas que havia
ganhado de cortesia.
Cada casa tinha um
ambiente especifico. Havia aquelas que tocavam Cumbia romântica, outra que só
tocava música eletrônica (nessa você encontra muito americano), também existe
aquela que tocavam rock pesado e outra bem eclética. Num determinado momento de
uma das casas adivinhe! O DJ tocou a música do cantor brasileiro Michel Teló (nossa
assim você me mata) e Ilariê da Xuxa. As pessoas pulavam, gritavam e rodavam quando tocavam esses hits. Não sabia se caia na gargalhada ou
chorava. Mas, resolvi cair na folia e dançar com o pessoal.
Incrível como os
brasileiros são bem vindos nesses ambientes. No meu caso, não era muito difícil
perceber a minha nacionalidade, já o Emerson muitos ficavam em dúvidas se era
boliviano ou até mesmo peruano. Muita gente procurava falar conosco e interagir.
Algumas pessoas levantavam o copo, outras pediam para sambar, ou queriam fazer
amizade visando a Copa do Brasil.
Vista do quarto do hotel para a cúpula da igreja |
Lembro que um alemão
começou a conversar comigo em português, daí não conseguia acompanhar meu
raciocínio e passou a conversar em espanhol, depois tentou em inglês, e só que
eu não entendia (sou péssimo em inglês), arriscou um francês e por fim em
libras. Começamos a rir da situação. Mas entendi o seu recado: Ele queria saber
se poderia hospeda-lo em minha casa por que em 2014 viajaria para assistir os
jogos da Copa do Mundo. Daí, até explicar pra ele onde se localizava o Acre era
mais cinco horas de “Torre de Babel”.
Fizemos muitas
amizades. Trocamos muitos contatos e principalmente experiências sobre viagens,
cotidiano e vida. Infelizmente não encontramos o nosso recém-amigo, Gregory.
Lá pelas tantas da
madrugada, Emerson e eu, resolvemos ir dormir. No portão da boate o termômetro registrava
1°C. Apesar de bêbados sentíamos muito frio, mesmo assim resolvemos ir a pé ao
hotel e curtir a madrugada tranquila da cidade de 300 mil habitantes fixos.
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